É possível
falar à criança das pessoas mais idosas que ela conhece, do seu processo de
envelhecimento e morte. Podem encontrar-se alguns livros que facilitam este
diálogo, que se forem lidos em conjunto permitirão abordar com a criança os
sentimentos que desenvolve sobre o assunto.
Quando a morte acontece numa família, os pais e outros familiares por vezes
não encontram palavras para explicar às crianças e ajudá-las deste modo a
lidar com o acontecimento. Contudo, as crianças necessitam dos adultos para
as ajudar a lidar com a morte. Então, como explicar a morte às crianças?
- Fale com
palavras simples;
- Seja verdadeiro;
- Não hesite em usar palavras como “morto” e “morte”; Encoraje a criança nas suas perguntas: “O que é a morte?”. Pode
responder-lhe: “Morte significa que o corpo parou de trabalhar e não consegue
fazer nada do que fazia antes: não fala, não vê, não ouve, não pensa, não
sofre, não sente nada”.
Dependerá das convicções religiosas de cada família, mas esta é uma altura
importante para confrontar correctamente a criança com as suas bases
existencialistas (da família ou da sua cultura). É no entanto FUNDAMENTAL QUE
ESSAS CONVICÇÕES AJUDEM A RESOLVER O PROBLEMA E NÃO A COMPLICÁ-LO AINDA MAIS.
Por exemplo, para os cristãos, uma das mais poderosas ajudas que pode ser
dada neste âmbito a uma criança é tranquilizá-la informando-a do facto de que
a pessoa morta está a”dormir” e que um dia irá acordar. Mostrar-lhe a
naturalidade do “sono” e ajudá-la com uma das promessas da Bíblia – que
aponta para Jesus como o autor da ressurreição quando Ele voltar – trará
tranquilidade perante a condição mortal da humanidade. É altura para ler com
a criança a história da vida de Jesus, e do seu encontro com a menina de doze
anos morta na sequência de uma doença. Em torno do texto a criança pode
construir a sua relação de modo integrado.
Este contacto com a criança deve ser feito preferencialmente sentando-a ao seu
lado, tomando-a nos braços e explicando-lhe com palavras simples tais como:
“Aconteceu uma coisa muito, muito triste. O papá adoeceu com uma doença grave
que nem toda a gente tem e morreu. A culpa da morte não é dele, não é tua.
Vamos sentir muito a falta dele porque gostávamos muito dele e ele amava-nos
muito”. É necessário explicar-se à criança que a consequência do adoecer nem
sempre é a morte.
Devem as
Crianças Assistir ao Funeral?
Muitos perguntam se as crianças devem assistir a um funeral. Deve ter-se em
conta os sentimentos das crianças. Se não quiserem ir, não devemos forçá-las
nem fazê-las sentirem-se culpadas por não quererem ir. Se quiserem ir,
devemos apoiá-las, dar-lhes uma descrição detalhada, através de palavras
simples, do que irá ter lugar e até do facto de haver um caixão que pode
estar aberto ou fechado. Explique-lhe também que verá muitas pessoas a chorar
porque estão tristes. Mais uma vez, responda às suas perguntas e
assegure--lhe de que pode não assistir, se quiser. Mas se ela decidir ir,
ajude-a, entre outras coisas, a compreender que existem algumas noções de
higiene que devem ser respeitadas. Na cultura portuguesa o beijo ao morto
constitui um dos hábitos mais insalubres que podem ter lugar. Assim se
transmitem muitas doenças e se prejudica a saúde. Por isso ajude-a a
construir uma relação mais saudável estando perto dela para evitar qualquer
perda de controlo (como querer atirar-se para o morto ou mesmo para o buraco
onde o caixão irá ser colocado). Motive-a a não dar beijos indiscriminadamente
salvaguardando assim a transmissão microbiana provocada pelo acto, mesmo se
praticado só por uma pessoa no funeral.
Como Não
Falar da Morte às Crianças
Não utilize certos termos quando falar com as crianças, pois pode
confundi-las. As crianças tendem a perceber as coisas muito “à letra”:
- As crianças sentirão medo de dormir e da hora de deitar se lhes disser
“está a dormir” e não compreenderem que depois “voltarão a acordar”, como
aconteceu com a menina acima referida;
- As crianças sentirão a angústia da separação se lhes disserem “foi-se
embora” ou “foi fazer uma longa viagem”;
- As crianças sentirão medo ou odiarão Deus se lhes disser: “Deus quis a avó
perto d’Ele”.
Como
Ajudar a Criança a Lidar Com a Perda
As crianças nem sempre mostram que estão deprimidas. Como já referimos,
sintomas como a alteração no seu comportamento habitual e nas suas
interacções diárias são sinais de que a criança está triste. Há muitas
maneiras de ajudar a criança em sofrimento. Citaremos apenas algumas:
- Desenvolva e mantenha um diálogo aberto com a criança;
- Encorage a criança a expressar os seus sentimentos;
- Assegure com convicção à criança que terá sempre alguém a cuidar dela e a
amá-la;
- Recorra a aconselhamento psicológico se achar que a criança em sofrimento
se encontra em risco.
Sérias
consequências podem advir se se ignorar esta situação. As crianças que não
tiverem na altura certa adultos que lhes transmitam convenientemente o que
está a acontecer, que lhes dêem apoio para resolver o seu luto e a deixem
exteriorizar os seus sentimentos, poderão vir a ser adolescentes e adultos
com muitas dificuldades. A família, os amigos, grupos religiosos, grupos de interajuda e
aconselhamento psicológico poderão ser o suporte necessário para o
desenvolvimento de futuros adultos mais estáveis emocional e
psicologicamente. Por isso convidamo-lo a entrar nesta rede de pessoas
adultas que decidiram “pegar uma criança com o coração para aliviar as suas
tristezas”. Verá que vale a pena!
(…)
Pegar uma criança com o coração
para aliviar as suas tristezas.
docemente sem falar, sem vergonha,
pegar uma criança contra o coração
tomar uma criança nos braços.
Mas pela primeira vez
verter lágrimas sem abater a sua alegria
pegar uma criança contra si.
(…)
Pegar uma criança com amor
pegar uma criança tal como ela vem
e consolar as suas mágoas
viver a sua vida nos anos mais próximos.
Pegar na criança pela mão
observando-a até ao fim do caminho.
Yves
Duteil
(tradução livre)
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